Crise exige humanização do atendimento médico

Redação Huna - 8 de abril de 2020

Crise exige nova postura de médicos e demais profissionais de saúde. Habilidades como empatia e boa comunicação na anamnese são diferenciais para mitigar erros de diagnóstico, uma vez que sintomas do novo coronavírus são similares aos de uma gripe

 

Não são só as pessoas comuns que precisam mudar hábitos de rotina para controlar a propagação acelerada da doença causada pelo novo Coronavírus (Covid-19). Com a crise mundial de saúde, os médicos e profissionais da área que ainda não adotaram uma postura mais humanizada e menos mecânica no momento dos atendimentos agora precisam se adaptar rapidamente. Além das competências técnicas, ou hard skills, o cenário exige posicionamentos mais assertivos na relação com os pacientes e deixar o lado humano se sobressair na hora do atendimento.

Flávia Del Valle, CEO do centro de treinamento médico especializado em Medicina de Emergência, o Exponential Medical Education (EME), em Balneário Camboriú, explica que essas competências não são novidade na formação médica contemporânea. “A formação do médico atual e do médico do futuro passa pelo desenvolvimento das soft skills, que são competências essencialmente humanas. São habilidades que ganham protagonismo com o desenvolvimento de tecnologias de automação e informação. O que ocorre agora é que esse diferencial, que apenas os modelos de ensino mais inovadores estavam levando para o mercado, agora é uma exigência pela qual não se pode mais esperar”, avalia a profissional.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 486 mortes e 11.130 casos da Covid-19 até 6 de abril. O número de novos casos confirmados por dia caiu neste domingo ― foram 852 novos pacientes infectados contra 1.222 registrados no sábado. No entanto, a redução pode ser resultado do ritmo de testagem, que ainda não é estável e pode variar a cada dia. A estimativa é que o pico da pandemia no país ocorra entre os dias 25 e 30 de abril, conforme apontam as projeções do infectologista Fernando Bozza, da Fiocruz.

Caso a crise se alastre, na análise dos especialistas em educação médica, os profissionais que estão na linha de frente terão que priorizar cada vez mais os chamados softs skills, que são as habilidades comportamentais. Um dos fatores é o fato de que o diagnóstico da doença exige a atenção redobrada na hora da anamnese, uma vez que os sintomas são parecidos com outras menos graves, como gripe e resfriado. “O desenvolvimento dessas competências complementares, que já é uma tendência mundial, deixa de ser apenas uma forma de os profissionais se adaptarem ao futuro e passa ser uma estratégia importante para salvar vidas”, reforça Del Valle.

Entre as habilidades que estão sendo exigidas dos médicos, estão a empatia e a boa comunicação na triagem dos casos. Os profissionais deverão praticar a escuta ativa e valorizar o contato humanizado com os pacientes, mesmo que via telemedicina, assim como manter uma relação honesta e transparente. Cabe aos médicos identificar as pessoas, verificar qual a queixa principal que levou o indivíduo até a unidade de saúde ou à teleconsulta, ver quando iniciou esse incômodo e levantar informações sobre os históricos de patologias, familiar e social – tabagismo, viagens recentes, pessoas que residem na mesma casa, entre outros tópicos.

Os softs skills também são fundamentais para a gestão administrativa das unidades de saúde. Flávia Del Valle explica que os gestores devem priorizar a informação e a boa comunicação com pacientes e equipes de servidores. Os processos de atendimento dentro dos hospitais, num cenário que requer higienizações constantes, devem ser detalhadamente comunicados e reforçados com frequência. Feedbacks também estimulam os funcionários quando sinalizam pertencimento no processo de combate à doença no país.

“É importante destacar que o mercado nos mostra que essas não são habilidades necessárias apenas no combate à proliferação da Covid-19. Com muitas pessoas, principalmente idosos e doentes crônicos em isolamento doméstico, o atendimento remoto é uma realidade cada vez mais comum. O médico precisa conhecer as ferramentas tecnológicas para fazer o melhor uso delas, mas a escuta ativa, a sensibilidade e a visão integral do paciente farão a diferença no cuidado de outras enfermidades”, completa a CEO do centro de treinamento médico EME.

 

Telemedicina como aliada no combate à pandemia

As limitações para a telemedicina, ou telessaúde, foram abrandadas temporariamente no Brasil por conta da pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19). A medida foi tomada pelo Ministério da Saúde no dia 20 de março, por meio de portaria (nº 467/2020) publicada no Diário Oficial da União. 

Regulamentada no Brasil desde 2002 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a aplicação da telemedicina no país ainda é bastante restrita.  Em fevereiro de 2019, o CFM havia publicado uma resolução ampliando as possibilidades da telemedicina no país, porém, após protestos de médicos e entidades, a revogou ainda no mesmo mês.

“A telemedicina proporciona agilidade e desburocratização aos serviços de saúde. No atual momento, por exemplo, está sendo uma ferramenta valiosíssima, no sentido de assegurar atendimentos médicos que seriam inviabilizados pelas regras de isolamento social e pela superlotação das Unidades de Saúde”, explica a advogada Giovanna Trad, advogada especialista em Direito Médico e da Saúde e membro da Comissão de Direito Médico e da Saúde do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB).

Ela esclarece que, com a pandemia pelo novo Coronavírus, foram autorizadas intervenções que antes não eram permitidas, como telemonitoramento, teleorientação, teleinterconsulta e teleconsulta. 

“Para exercer esses atendimentos à distância, não há imposição de habilitação ou registro específicos. Contudo, o CFM e o Ministério da Saúde exigem que o médico escolha uma tecnologia que garanta a integridade, a segurança e o sigilo das informações. Além disso, o médico deverá registrar o atendimento on-line em prontuário”, completa a advogada.

Para Flávia Del Valle, a flexibilização temporária da telemedicina também exige adaptação do modelo de educação médica. “Com a telemedicina percebida e institucionalizada como um instrumento capaz de contribuir com o enfrentamento da pandemia, ainda que temporariamente, é momento de os profissionais da saúde se adaptarem a essa inovação, atentando-se para suas possibilidades de uso eficiente, profissional e humanizado”, defende.

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