Como as constelações sistêmicas têm ajudado empresas a crescer

Redação Huna - 13 de abril de 2019

O método das Constelações Sistêmicas tem sido cada vez mais usado em ambientes empresariais do mundo todo ara desvendar questões como a falta de tempo, a escassez de dinheiro, conflitos entre sócios, dificuldades em empresas familiares, problemas com chefias. Por meio da análise de relações vividas anteriormente, principalmente as familiares, o método ajuda a identificar e alterar padrões invisíveis de comportamento responsáveis por travar o processo de evolução de pessoas e empresas.

A coach sistêmica Michelle Thomé, analista transacional certificada para a área Organizacional pela Unat-Brasil, consultora em comunicação e constelação familiar, conversou com jornalista Melissa Bergonsi em matéria para a Revista Setor Empresarial, da Associação Empresarial de Balneário Camboriú e Camboriú (Acibalc), para compartilhar um pouco do conhecimento que usa nos processos de coaching e treinamentos em empresas. Catarinense de Caçador, Michelle mora no Rio de Janeiro e viaja o Brasil para workshops baseados na Análise Transacional e Constelações Familiares que abordam o relacionamento com o tempo, dinheiro, comida, chefia e amor.

Em seus workshops e consultorias, você se baseia em duas teorias: a análise transacional e as constelações familiares. Pode explicar para nossos empresários e leitores o que são e como as usa em seu trabalho?

MICHELE THOMÉ – As vivencio como filosofias que fazem sentido no meu dia a dia e, por isso, as utilizo também como base de trabalho. A Análise Transacional foi criada pelo canadense naturalizado americano Eric Berne, nos anos 50. É uma teoria de Psicologia Social formada por conceitos e ferramentas práticas que dão suporte na análise e alteração de padrões de relacionamentos que interferem na autonomia pessoal, na espontaneidade e na intimidade. O método das Constelações Familiares foi desenvolvido e apresentado ao mundo pelo alemão Bert Hellinger, que também é analista transacional. A popularização aconteceu na década de 90 e, de lá para cá, ele formou centenas de profissionais, que, por sua vez, têm evoluído o procedimento em termos de metodologia e aplicações. É uma técnica de observação fenomenológica nos campos morfogenéticos, que são descritos pelo biólogo Rupert Sheldrake como uma memória coletiva para onde cada integrante de um sistema ou grupo recorre e para a qual cada um contribui. Portanto, olhamos neste trabalho para as leis sistêmicas da herança familiar, o papel social da consciência moral dos grupos e a consciência espiritual que se manifesta pelo amor. O constelador familiar respeita a dinâmica profunda do movimento de cura que se baseia na adesão incondicional de tudo como é.

E as constelações organizacionais? Elas têm a ver com empresas familiares ou podem ser aplicadas para qualquer empresa?

MT – A empresa é um conjunto de pessoas compartilhando a intenção de trabalhar junto para construir algo maior do que seria possível criar sozinho. Uma organização é capaz de produzir/ofertar produtos e serviços maiores do que a soma das partes. Isto é um sistema. Cada trabalhador tem seu próprio sistema e o leva inconscientemente para a empresa. Então, temos uma soma de vários sistemas habitando a organização. As Constelações são uma abordagem do sim à vida como ela é e podem ser aplicadas em qualquer tipo de empresa, uma vez que a organização é um sistema composto de inúmeros sistemas. No caso de empresa familiar: se algo grave aconteceu com integrantes das famílias dos fundadores, por exemplo, e não foi reparado naquela época, podem haver reflexos nas gerações seguintes. Estes reflexos podem estar relacionados à exclusão de membros do negócio, ao desequilíbrio financeiro entre dar e receber ou ao desrespeito hierárquico.

Você tem um workshop de sucesso sobre relacionamento com o tempo. Como nossas ações parecem ser um espelho de todas as nossas relações anteriores, podemos partir da ideia que elas também influenciam como lidamos com as outras coisas como a comida, o dinheiro, as parcerias profissionais e os negócios?

MT – A organização do tempo, o estilo preferencial de chefe que temos ao longo da vida profissional, a escassez ou abundância de dinheiro, a qualidade dos afetos e a escolha da comida que ingerimos são símbolos de como nos relacionamos com a vida. Resolvi especificar e trabalhar com estes temas individualmente em workshops abertos à comunidade depois de percebê-los com frequência nas sessões de coaching e nos treinamentos corporativos. Problemas relacionados a estes temas que menciono – e a tantos outros, como as mais diversas doenças ou vícios – são convites do sistema a que pertencemos para que possamos olhar para a dificuldade, aceitá-la e restaurá-la a partir das três ordens do amor: 1) necessidade de equilibrar o dar e o receber, de compensar danos com reparações; 2) quem chegou depois no sistema familiar ou empresarial deve respeito aos que chegaram antes; 3) todos têm o mesmo direito de pertencer ao sistema, independente das diferenças. Eu sei que não é fácil aceitar o que vou dizer. Pelo menos não foi fácil para mim. Os problemas são desafios muito bem-vindos para nosso crescimento. E mais: ao trabalharmos esta questão difícil, além de nos beneficiarmos pessoalmente, liberamos os demais integrantes do sistema de sofrer com o mesmo problema.

Parece que nós, humanos, estamos sempre correndo “atrás do rabo” quando o assunto é tempo. Somos escravos do tempo? Ou nossa “incompetência” em lidar com ele é que nos faz escravos?

Hoje temos excesso de estímulos. Não ouço ninguém dizer nada contrário disso. É um bombardeio de informação útil ou inútil, verdadeira ou falsa, de possibilidades de comida e bebida, de opções de divertimento, de modelos de roupas e calçados, de convites para amizades virtuais, de destinos para férias… Tudo disponível a um clique. Será que tem como ser imune a estes estímulos? Minha resposta é não. Hoje a vida é assim. Até no Caminho de Santiago, trajeto tradicional de caminhada solitária na Europa para quem quer refletir sobre a vida, temos festival de selfies, disputa por wifi, competição de equipamentos modernos e mais adequados… Não é justo conosco a comparação com a maneira como nossos avós usavam o tempo. Então, acredito que cada um está fazendo o melhor que pode diante enxurrada de convites para se distrair do que realmente importa: o presente. Eu, você, o lugar que escolhemos estar e o que fazemos entre nós. Por isso dei o nome ao workshop de “Relacionamento com o tempo”. É algo muito particular e que aparece nas relações : a relação comigo mesma, a relação com quem está ao lado, com a comunidade, com a atividade que escolhi fazer etc. Sua pergunta me fez lembrar de uma conversa que tive com meu avô Darssis no sítio dele, em Caçador. Estava chovendo, friozinho, ele colocou uma cadeira na garagem e ficou olhando para fora de casa. Eu cheguei perto com outra cadeira e tentei encontrar com meu olhar o que ele estava fazendo. Seria um passarinho? Não achei nada e julguei totalmente sem graça aquele uso do tempo. Fui ficando incomodada, puxando assuntos diversos e ele respondia brevemente, como se eu estivesse interrompendo algo importante. Na época eu era repórter e parecia que se eu não fizesse perguntas, não estava existindo.

Não me aguentei e perguntei:

– Vô, o que você está fazendo?

– Nada.

– E é bom isso?

– O suficiente.

– E você está vendo algo interessante?

– A vida.

Encerrei as perguntas e fiquei ali olhando as árvores, o chão molhado, umas peças de cerâmica do jardim, as orquídeas da vó… Continuei não achando graça, mas fiz companhia a ele por um tempo. Hoje, eu me emociono ao lembrar desta cena e acho que agora consigo decifrar o que ele estava sabiamente fazendo: “a vida nos convida a vivê-la no tempo dela; o nosso melhor uso do tempo é aceitar a vida como é e isso é bom o suficiente”.

Bem, se nossa bagagem de relações anteriores e familiares interferem em nossa vida, o que dizer então de empresas familiares?

MT – As empresas familiares são a extensão das relações em casa. No sistema familiar existem algumas leis (que Hellinger nomeou de ordens de amor) que, se não forem reverenciadas, criam um elo dramático naquela geração e nas seguintes. Repito: são decisões inconscientes que fazemos por amor para continuar pertencendo ao sistema familiar e mantendo o equilíbrio. Um exemplo: no passado, lá na época dos avós, os criadores da empresa, uma injustiça foi cometida com um funcionário. O neto, que é o presidente atual desta organização e nunca soube deste incidente, desde que assumiu tem tido fortes perdas financeiras em processos trabalhistas. Ele sente-se surpreso a cada intimação que recebe e não consegue entender o motivo de tantos funcionários estarem descontentes. Ele não julga que as reclamações são pertinentes, contrata renomados advogados e as sentenças das ações são desfavoráveis à empresa. Se este neto/presidente fizesse uma constelação, seria possível enxergar este elo dramático com o passado que o leva, inconscientemente, a reparar a injustiça que o avô cometeu décadas atrás. Para equilibrar o sistema, agora, ele dá dinheiro aos funcionários e sacrifica a saúde financeira da empresa.

Existe algum exercício ou tarefa que a gente possa praticar em casa para perceber como nos relacionamos com o tempo ou melhorar essa relação?

MT – Meus clientes e participantes dos workshops vão para casa com a tarefa de aceitar incondicionalmente seus pais, sem reivindicações. Amá-los na certeza que fizeram e fazem o melhor que podem por nós. Devemos o mais importante a eles: a vida. O exercício de honrá-los, interrompendo a vontade de transformá-los naquilo que julgamos ser o tal jeito certo. Quando é pertinente, no final das atividades, costumo compartilhar essas frases e peço que se conectem em si mesmos pelo menos uma vez ao dia e as repitam: “Mãe e pai, os aceito como são. Vocês são únicos e verdadeiros. Não há outros para mim. Sim, vocês são meus pais, com todas as consequências que isso possa ter para mim. Tomo o bem que me deixaram e confio que levarão suas vidas da melhor maneira. Agradeço o que me deram, é suficiente e isso me basta. O restante, eu faço eu mesma. Muito obrigada pela vida”.

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